Vários investigadores alertaram, com base em registos de
monitorização das comunidades piscícolas no Tejo, para a presença crescente de
muitas espécies exóticas no rio, como a espécie invasora dos siluros, que
afectam os peixes nativos e o ecossistema ribeirinho. “O Tejo está a ser
invadido por muitas espécies exóticas, e o que nós temos estado a verificar é
que, desde a década de 80 até agora, se verifica uma variação muito grande da
proporção de espécies nativas e de espécies exóticas, tendo a presença de
invasoras aumentado de 10% para os 50%”, disse à Lusa Rui Rivaes, do Centro de
Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), que integra uma equipa de monitorização
das comunidades piscícolas em 12 pontos do rio, entre Fratel (concelho de Vila
Velha de Ródão) e Salvaterra de Magos.
Segundo o investigador, nos anos 1980 encontrava-se em média 90% de espécies
nativas e 10% de espécies exóticas, mas a divisão actual é 50%/50%. Regista-se
“uma taxa de aproximadamente 1% ao ano de variação” e, a partir de agora, se a
tendência se mantiver, haverá mais exóticas do que nativas. As consequências
preocupam os investigadores, pelos impactos nos ecossistemas, ainda não
conhecidos. “Vamos passar a deixar de ter aquelas espécies que havia
antigamente para haver espécies que não são nossas, e isso depois acarreta
todas as consequências ecológicas de um ecossistema que era utilizado de
determinada forma e passa a ser utilizado de outra, com animais que se
alimentam e vivem de forma diferente. Portanto, depois há uma cascata de efeitos
ecológicos que altera tudo”, notou.
Questionado sobre que tipo de alterações se podem esperar, Rui Rivaes lembrou
que as espécies exóticas, ou invasoras, se alimentam das nativas. A alteração
das comunidades existentes no rio muda tudo, desde a qualidade da água aos
ecossistemas. “Se nós temos espécies que são mais bentónicas, que se alimentam
do fundo, e passamos a ter só predadores, vamos ter, por exemplo, outras
exóticas, como o alburno, que se alimenta na coluna de água, ou seja, vamos ter
menos zooplâncton, menos fitoplâncton, o que também diminui a qualidade da
água, com uma cascata de efeitos que não está bem estudada”, alertou.
Os investigadores iniciaram uma monitorização da qualidade das águas e das
comunidades piscícolas do Tejo que se prolonga por 15 dias, com os primeiros
dados a revelarem que a qualidade ecológica das águas está num nível “fraco”.
De entre as espécies invasoras sinalizadas - 50% do total da fauna – destaca-se
o siluro ou peixe-gato-europeu. O especialista relatou que a colega do grupo de
trabalho Mafalda Moncada fez um estudo sobre a dieta do siluro e que encontrou
lampreias e muitas enguias no estômago de um exemplar. Foram também encontradas
aves aquáticas, como o corvo-marinho e patos, animais de porte significativo.
O processo de monitorização da equipa do MARE utiliza métodos científicos de
captura de peixes, recorrendo à pesca eléctrica, e tem como objectivo
acompanhar a progressão da invasão do peixe-gato-europeu. “Não quero ser
alarmista, mas quando nós estamos a olhar para o Tejo e para o panorama geral
de 40 anos de monitorizações, vemos que realmente tem havido uma degradação
acentuada da qualidade ecológica do rio e que corrobora aquilo que nós estamos
a ver em termos de dimensão das populações”, concluiu.