(Foto: Noticias do Sorraia)
O Melão D’Almeirim é, a par da Sopa da Pedra e das
Caralhotas, um dos produtos mais característicos do concelho e da região do
Ribatejo. O verde escuro distingue-o do tradicional melão branco assim como a
sua consistência mais rija e menos aguada.
“Um bom Melão D’Almeirim aguenta até ao Natal, se não se
comer antes”, afirma Rui Constantino, um dos três produtores deste fruto
regional, enquanto acarta caixas para a banca de promoção do Melão D’Almeirim,
junto à Arena, e que explicou ao NS algumas das particularidades deste fruto,
bem como algumas das dificuldades que os produtores enfrentam.
Para além de Melão D’Almeirim, o agricultor de 55 anos
dedica-se à produção de bróculos, ervilhas e curgetes. A principal dificuldade
que destaca é transversal ao setor da agricultura, seja qual for a colheita – a
mão de obra.
No campo, diz Rui Constantino, hoje em dia encontra-se
maioritariamente trabalhadores estrangeiros, muitos dele oriundos de países
como a Índia, o Paquistão ou o Bangladesh. Especialmente para trabalhos não
especializados, ou seja, o trabalho mais braçal. Devido à falta de mão de obra
nacional, o agricultor diz que só consegue recorrer aos serviços de
trabalhadores estrangeiros e mesmo assim é escassa para as necessidades.
“Antigamente fazia uma média de 15 caixas de melão por dia. Agora não se
ultrapassa as nove”, lamenta o agricultor.
“Os portugueses, a maioria deles só quando estão com a corda
ao pescoço. Aparecem um ou dois dias e pedem logo o pagamento no fim do dia”,
vinca o agricultor, que se queixa ainda do encarecimento da mão de obra, ainda
mais se for especializada.
Rui Constantino chegou a pagar perto de 100 euros por dia a
um tratorista, o que se traduz em cerca de 2500 euros por mês.
“Não é que não seja dinheiro merecido, mas é demasiado caro
para o rendimento que tenho”, explica ao NS.
Melão D’Almeirim é único no país
É logo durante a plantação, que decorre entre abril e junho
como indica o Caderno de Especificações de Indicação Geográfica Protegida, que
o Melão D’Almeirim tem a sua primeira especificidade. “Quando ele chega a uma
certa altura tem que ser tapado com palha, porque depois nessa altura ele
começa a encher. A gente reduz a água e as folhas desidratam um bocadinho, ou
seja, murcham e entra mais o sol e se não for tapado com a palha queima”,
refere o também presidente da Associação Comercial e Empresarial do Concelho de
Almeirim “MOV Almeirim”.
Ao contrário do melão branco, que pode ser plantado em
qualquer lugar, o Melão D’Almeirim só pode ser plantado nos campos da Ribeira
de Santarém, na freguesia de Muge (Salvaterra de Magos) e em Almeirim, zonas
onde os três produtores detém os seus terrenos.
Rui Constantino, que é também um dos responsáveis pelo
processo de certificação, explica que apesar de ser um negócio de nicho, e que
a venda é feita praticamente só em território almeirinense, obter a
certificação de produto tradicional ajuda a proteger a autenticidade e
valorizar o fruto e a sua produção.
“Vê-se Melão D’Almeirim escrito em todo o lado e não é de
Almeirim” lamenta o agricultor, lembrando que o verdadeiro Melão D’Almeirim
identifica-se por ser vendido dentro de uma rede verde e por ter o autocolante
que certifica que é verdadeiro.
A produção não é muito elevada, segundo o produtor, porque
os custos são cada vez mais altos, o que encarece o produto final. Ao NS, Rui
Constantino explica que cultiva menos de um hectare de terreno, à semelhança
dos outros dois produtores. O aumento generalizado dos preços durante e após a
pandemia também afetou estes produtores, especialmente com o encarecimento do
fertilizante. Os melões variam os preços entre os três e os nove euros
(conforme o tamanho e o peso), com os três produtores a combinarem um preço
mínimo de venda para não desvalorizarem os melões uns dos outros.
Como escolher um bom melão?
“Para mim, um bom melão tem que ser um melão pesado”,
explica o agricultor, revelando que o segredo para escolher um melão com
qualidade está no peso. Um melão mais pesado significa que está cheio, que
maturou bem.