O padre Joaquim Ganhão, pároco da Sé de Santarém, justificou
hoje a utilização do mármore no novo altar daquele templo com a “simbologia da
pedra”, assim como com a “necessidade de diálogo entre a arte antiga e
contemporânea”.
O novo altar e os restantes elementos do presbitério da Sé
Catedral de Santarém foram inaugurados na noite de terça-feira, no âmbito da
abertura das comemorações dos 50 anos da criação da diocese, estando a gerar
alguma controvérsia, com alguns habitantes a considerarem que o uso de mármore
não é compatível com uma catedral barroca.
No passado sábado, o jornal público noticiava que “a
remodelação efetuada no espaço religioso e, sobretudo, o uso generalizado de
pedra mármore numa catedral de origem barroca (século XVII), onde
tradicionalmente predominava a madeira, está a gerar acesa polémica. Há mesmo
quem fale de ‘atentado ao património’ e quem acuse a diocese de Santarém de
ocultar os comentários desfavoráveis colocados na sua página de Facebook”.
Em declarações à agência Lusa, Joaquim Ganhão explicou que o
novo altar foi concebido com o objetivo de promover um diálogo entre a arte
antiga e contemporânea através “de uma estrutura sólida e digna”.
“Não estamos impedidos de ter elementos de madeira e altares
de madeira (…), mas foi sempre um desejo do presbitério da diocese dotar a
catedral de um altar digno e com outra solidez, procurando fazer entrar em
diálogo aquilo que é arte antiga com a arte contemporânea”, acrescentou.
O sacerdote, também diretor do Museu Diocesano de Santarém e
responsável pela Comissão Diocesana dos Bens Culturais da Igreja, sublinhou que
a escolha do mármore “é apropriada e coerente” com o espaço existente,
acrescentando que a capela da Sé de Santarém “é, também ela, dominada por
elementos de mármore”.
“Esses argumentos [de contestação], muitas vezes vêm de
pessoas que parecem não estar familiarizadas com o espaço. Essas críticas não
levam em conta a realidade do ambiente da capela-mor, onde o mármore já
predomina”, afirmou.
O padre explicou ainda que a escolha do novo altar não foi
uma “decisão de uma única pessoa”, mas antes um processo “interdisciplinar
envolvendo diversos consultores e especialistas”, com a obra a ser entregue ao
escultor Paulo Neves.
Embora reconheça as críticas, Joaquim Ganhão admitiu que
muitas delas “vêm de fora da diocese”, ao mesmo tempo que disse estar
“convicto” de que esta decisão foi a melhor “para a igreja e para a cidade” e
acrescentou que esta renovação deve-se também à “inadequação das soluções de
madeira usadas nos últimos 60 anos”.
A inauguração do novo altar fez parte do programa de
abertura das comemorações dos 50 anos da criação da diocese de Santarém, em 16
de julho de 1975, a mesma data em que foi erigida a diocese de Setúbal, ambas
por desagregação do Patriarcado de Lisboa.