Vamos recuar a 2010, um ano que se tornou num pesadelo para
muitos portugueses. O país enfrentava uma grande crise financeira e o nome
"Troika" tornou-se muito familiar. Enfrentámos duras medidas de
austeridade para tentar salvar a nossa economia.
Ao mesmo tempo, também a Grécia e a Irlanda enfrentavam
realidades semelhantes às de Portugal. Hoje, 14 anos depois as diferenças não
podiam ser maiores, porque agora a Irlanda tem um novo e diferente problema:
excesso de dinheiro. O que não é o caso de Portugal, infelizmente.
Enquanto Portugal ainda luta para equilibrar as contas
públicas, a Irlanda exibe um excedente orçamental impressionante, na casa dos
8.600 milhões de euros. Esse montante é mais de dez vezes superior ao de
Portugal. E é aqui que surge um dilema que muitos países gostariam de ter: como
gastar esse dinheiro?
Com o terceiro ano consecutivo de excedentes orçamentais, a
discussão em torno do que fazer com esse dinheiro está no centro das atenções,
na Irlanda. Alguns economistas argumentam que esta é uma oportunidade única
para realizar investimentos públicos que podem transformar a vida dos
irlandeses, que apesar de "ricos" enfrentam desafios na habitação,
sistemas de saúde e de transportes, entre outros.
Por outro lado, o governo irlandês, talvez ainda marcado
pelas cicatrizes da austeridade, adota uma postura mais cautelosa. Preocupados
com a volatilidade das receitas fiscais, as autoridades argumentam que é
prudente manter uma almofada financeira para enfrentar desafios futuros.
O sucesso recente da economia irlandesa, que cresceu cinco
vezes mais rápido do que o esperado no ano passado, deve-se, em grande parte,
ao facto de o país se ter tornado na casa de grandes multinacionais,
especialmente no setor farmacêutico e tecnológico, devido à baixa carga fiscal
que oferece às empresas. Essas empresas não só impulsionaram o crescimento
económico, mas também aumentaram significativamente as receitas fiscais,
contribuindo para os excedentes orçamentais.
Contudo, o debate sobre o que fazer com esse dinheiro não
tem uma resposta simples. Aplicar esses fundos em necessidades imediatas pode
trazer benefícios palpáveis e imediatos para a população, mas guardar para o
futuro pode ser uma estratégia mais segura perante as incertezas económicas e
desafios globais. Seja qual for o caminho escolhido, o trajeto económico da
Irlanda não deixa de ser inspirador.