A quarta edição da Volta a Portugal feminina, na estrada
de quarta-feira a domingo, estreia a corrida no calendário da União Ciclista
Internacional (UCI), com um aumento da exigência, internacionalização e
percurso endurecido.
“Esta Volta a Portugal vai ser boa, também pelos pontos
UCI [que passa a atribuir] e pelas equipas que vêm. A maior parte do pelotão
português não está habituada a este nível. A minha equipa vai com frequência ao
estrangeiro, e com equipas organizadas, como são no escalão Continental, é
completamente diferente”, diz à Lusa Ana Caramelo, à laia de aviso.
A ciclista da Matos Mobility-Flexaco, atual vice-campeã
nacional de fundo e contrarrelógio, foi a melhor portuguesa em 2023, acabando
no sexto lugar final uma edição ganha pela russa Valeria Valgonen, ausente das
inscritas da Soltec-Iberoamérica para este ano.
As 19 equipas do pelotão da quarta edição, incluindo sete
do escalão Continental, enfrentam 442,9 quilómetros entre cinco etapas, com
várias ciclistas a preverem dificuldades para o contingente nacional, que
coloca oito equipas de clube entre as formações inscritas.
“Deixo um ponto de interrogação: quantas portuguesas vão
terminar? A maior parte não está habituada a este nível. O nível não tem nada a
ver, até porque muitas aqui trabalham, estudam. Mas ainda bem que existe, para
quem cá está ver outra realidade”, defende Ana Caramelo.
Perto de 120 ciclistas, de 27 nações diferentes, vão
enfrentar a quarta edição, que arranca com 96,4 quilómetros entre Vila Nova de
Gaia e Águeda, antes de a segunda etapa, que parte na Mealhada e acaba 119,9
quilómetros depois em Sever do Vouga, ajudar a selecionar o pelotão, com uma
chegada em alto.
Seguem-se 121,9 quilómetros entre Anadia e Pombal, depois
92,5 quilómetros entre Torres Vedras e a Póvoa de Santa Iria, na ‘totalista’
Vila Franca de Xira, antes de um contrarrelógio individual plano, de 12,2
quilómetros, coroar a vencedora junto ao Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
Ana Caramelo quer continuar a trabalhar para ser “a
melhor portuguesa”, mediante os objetivos da equipa, na expectativa de saber se
o pelotão deixará as etapas mais planas serem discutidas ao sprint ou se
“haverá jogadas”, num contexto em que vê Portugal como “um chamariz” mas com um
contingente nacional ainda em busca de maturidade.
A campeã nacional no ‘crono’ e no fundo, Daniela Campos,
vem à Volta pela Eneicat-CM Team num contexto diferente de grande parte do
pelotão, uma vez que, depois, fará as malas para representar Portugal nos Jogos
Olímpicos Paris2024.
A jovem quer “ajudar a equipa, que vai com o objetivo de
discutir a Volta”, uma vez que é do escalão Continental uma das formações que
mais aposta na corrida, e destaca o “momento bastante especial” de correr com a
camisola de campeã nacional.
“O nível vai ser mais elevado, assim como a exigência da
corrida. Espero uma corrida bastante dura. O meu objetivo será ajudar a equipa
e preparar objetivos futuros. Há uma ou duas etapas que se podem adequar às
minhas características, como o contrarrelógio”, declara.
Campos, de resto, terá ainda Europeus e Mundiais, no
último ano de sub-23, chegando com a moral em cima – além da chamada ‘olímpica’
e dos títulos nacionais, venceu uma etapa na Volta à Guatemala, raro sucesso do
ciclismo português no feminino no estrangeiro.
Também a correr lá fora, na inglesa
DAS-Hutchinson-Brother, está Vera Vilaça, que sabe o que é subir ao pódio de
uma Volta, tendo sido terceira em 2022, ainda pela Veloperformance.
A antiga triatleta prevê também “um nível muito mais
elevado”, comparável ao que encontra no estrangeiro, mas essa subida de valor
permite “evoluir cá dentro”.
“O nível internacional está altíssimo, todos os anos se
anda mais. Tenho notado que toda a gente anda muito, e trazer essas ciclistas e
equipas, aprender a correr com elas e ter esse desafio, [é] para no inverno
evoluir mais, para o ciclismo português crescer mais a cada ano”, afiança.
Vê o percurso como sendo mais duro, além de ser a maior
distância de sempre, e por isso esta edição será “diferente e mais desafiante”,
com a equipa britânica em busca de “tentar a camisola amarela”, uma luta na
qual espera inserir-se e “tentar ganhar uma etapa”.
“Vai ser muito duro para as equipas portuguesas, mas é
sempre melhor sermos expostas a um nível alto, mesmo que signifique menos
títulos”, resume.
Entre os destaques das equipas presentes, nota para a
norte-americana Cynisca, da recente campeã pan-americana Lauren Stephens, com
22 vitórias profissionais no palmarés, e para a Arkéa-B&B Hotels (França),
esta da neozelandesa Michaela Drummond, medalhada em Mundiais de pista.
O pelotão inclui ainda a Aromitalia 3T Vaiano (Itália),
DAS-Hutchinson-Brother (Inglaterra), de Vera Vilaça, Eneicat-CM (Espanha), de
Daniela Campos, Coop-Repsol (Noruega) e Soltec Iberoamérica (Panamá).
Do pelotão nacional chegam oito das 12 equipas de clube,
no caso a Academia Efapel, a Cantanhede Cycling-Vessam, a
CDASJ-Cyclin’Team-Albufeira, a Korpo Ativo, a Maiatos, a Matos
Mobility-Flexaco, a Tavira-Extremosul-Farense e a Vertentability.
Outra das equipas em prova é a Cantabria-Rio Miera, com
três portuguesas, Marta Carvalho, Beatriz Pereira e Beatriz Roxo, gaiense que
foi 10.ª na geral final de 2023.
A única vencedora portuguesa da Volta foi a olímpica
Raquel Queirós, em 2021, estando hoje dedicada ao BTT.