(Foto: O Mirante)
Cada mulher deve estar atenta ao seu corpo e fazer de forma
regular o autoexame mamário, valorizando qualquer alteração detetada e realizar
a consulta periódica com o medico assistente, que determinará o grau de risco e
a forma mais adequada de vigilância.
Na atualidade, a doença mamária e, particularmente, o cancro
da mama é um tema incontornável na sociedade, sendo causa de particular
preocupação nas mulheres, não esquecendo, no entanto, que embora raro, pode
afetar o sexo masculino. Segundo os dados de 2022 do observatório do cancro da
Organização Mundial de Saúde (Global Cancer Observatory), verificou-se que em
Portugal, entre as doenças oncológicas, o cancro da mama foi o mais frequente
nas mulheres, sendo igualmente a causa mais frequente de mortalidade por cancro
no sexo feminino, compreendendo-se assim, bem, o medo que gera.
O primeiro passo para combater este medo passa pela prevenção, de forma a
detetar precocemente a doença e assim minimizar os seus efeitos mais gravosos e
impactantes na vida das mulheres. No âmbito da prevenção, podem ser
consideradas abordagens de rastreio populacional ou individual.
Cada mulher deve estar atenta ao seu corpo e fazer de forma regular o autoexame
mamário, valorizando qualquer alteração detetada e realizar a consulta
periódica com o médico assistente, que determinará o grau de risco e a forma
mais adequada de vigilância. A Ordem dos Médicos recomenda o “início dos exames
mamários aos 40 anos com periodicidade anual, decisão essa que deverá ser
partilhada com o médico assistente, ajustada aos fatores de risco individuais e
familiares e devidamente informada quanto aos benefícios e inconvenientes dos
programas e métodos de rastreio”, como se pode ler no seu site.
Infelizmente, esta é uma doença que pode surgir em idades mais jovens, pelo que
alterações da pele da mama ou mamilo, nódulo palpável na mama ou axila,
corrimento de líquido pelo mamilo ou qualquer outro sintoma deve ser sempre
valorizado e motivar consulta com o medico assistente, que avaliará e decidirá
a necessidade de realização de exames complementares de diagnóstico para
esclarecimento.
Durante a gravidez e amamentação, não é infrequente ocorrerem problemas
relacionados com inflamação e infeção, como as mastites e abcessos. Contudo,
não nos devemos esquecer que também nestes períodos pode desenvolver-se cancro
da mama, sendo crucial que sempre que haja essa suspeita deva ser feito o seu
correto diagnóstico. Fazer os exames de rastreio, antes de surgirem quaisquer
sintomas ou sinais de alerta, permite detetar precocemente a doença, fazendo
com que o tratamento seja bem-sucedido. O médico assistente indicará, nesse
contexto de rastreio, a realização de mamografia e ecografia mamária, além de
fazer o exame clínico da mama durante a consulta.
O desenvolvimento tecnológico permite hoje recurso a técnicas de elevada
capacidade na deteção de lesões em fases iniciais e mesmo pré-malignas.
Falamos, por exemplo, da mamografia associada a tomossintese, também conhecida
como mamografia 3D. A tomossintese é uma técnica usada em combinação com a
mamografia convencional, aumentando a capacidade diagnóstica relativamente à
mamografia tradicional por permitir maior definição e detalhe das imagens a
analisar.
Vários estudos permitiram verificar que o uso combinado de ambas técnicas
aumenta a taxa de deteção do cancro da mama, sobretudo em mamas com padrão de
elevada densidade, padrão este muito frequente, principalmente na população
mais jovem, sendo assim de relevante importância dada a incidência crescente da
doença que se tem vindo a verificar nesse grupo etário. Por um lado, consegue
detetar lesões não visíveis na mamografia tradicional, aumentado a
possibilidade de deteção precoce, por outro lado, pode ajudar a esclarecer
dúvidas que levariam à necessidade de realização de outros estudos, reduzindo a
necessidade de recurso a ressonância magnética ou procedimentos mais invasivos,
com as biopsias, em muitos casos.
Também a experiência dos médicos radiologistas na leitura e realização dos
vários exames é um fator de grande importância, pelo que é fundamental a sua
especialização em radiologia mamária. O resultado dos exames efetuados deverá,
sempre, ser integrado pelo médico assistente com a situação clínica da paciente
em causa.
Perante a presença de alterações, pode ser necessário realizar exames de imagem
complementares ou até biopsia mamária, o que inevitavelmente gera ansiedade e
receio quanto ao procedimento e respetivo resultado.
Relativamente à biopsia, o medo do desconhecido e da dor são as preocupações
mais transmitidas pelas pacientes, mas de salientar que, em geral, é um exame
facilmente tolerável. Hoje, é possível realizar biópsias mamárias recorrendo a
novos equipamentos que conjugam maior comodidade e conforto para as pacientes e
melhores resultados clínicos. Quanto ao resultado, o mesmo pode permitir
confirmar que se trata de alterações benignas ou fazer o diagnóstico de cancro
de mama. Quando se trata de enfrentar um diagnóstico oncológico, confiar na
equipa clínica que acompanha o caso é essencial.
A decisão terapêutica será multidisciplinar, envolvendo médicos especialistas
das várias áreas da senologia, desde o diagnóstico ao tratamento e seguimento,
incluindo médicos das áreas de imagiologia, medicina nuclear,
anatomia-patológica, equipa cirúrgica dedicada à cirurgia de mama, oncologistas
e radioterapeutas, e idealmente incluindo também o envolvimento de enfermagem,
fisioterapia, psicoterapia e nutrição dedicadas, o que irá permitir elevada
qualidade profissional e tecnológica, essencial para obter os melhores resultados.
Os avanços da ciência permitem terapêuticas cada vez mais eficazes e
eficientes, dirigidas a cada situação particular, aumentado a sobrevida livre
de doença, com aumento da qualidade de vida e redução efetiva da taxa de
mortalidade.
As preocupações com a imagem corporal estão também, atualmente, bem patentes
aquando do tratamento, como mostra o enorme desenvolvimento da cirurgia
oncoplástica, que inclui técnicas cirúrgicas terapêuticas que valorizam também
o resultado estético. A evolução da medicina, especialmente em oncologia, é
promissora e diariamente surpreende com inovação e descoberta, favorecendo que
o prognóstico perante um diagnostico de cancro da mama seja cada vez mais
favorável.
Como mensagem final, salientar a importância da prevenção, realizando com
regularidade exames médicos e autoexame mamário e adotando estilos e hábitos de
vida saudáveis que deverão incluir a prática de exercício físico regular,
redução do stress e uma alimentação saudável, evitando o açúcar, álcool e
tabaco.
Escrito de acordo com o novo acordo ortográfico.