Em Muge, concelho de Salvaterra de Magos, encontram-se
alguns dos sítios arqueológicos mais importantes para a caracterização das
civilizações que habitaram o nosso território há milhares de anos – Os
Concheiros de Muge.
Os concheiros são sítios que os últimos povos
caçadores-recoletores usavam para acumular conchas, restos de animais e eram
também utilizados para rituais relacionados com a morte dos indivíduos da
sociedade.
A existência destes concheiros, onde se encontram restos de
espécies marítimas, é um indicador de que as alterações climáticas durante o
período mesolítico (aproximadamente entre 13 000 e 9 000 a.C.) obrigou as
populações que viviam nas costas a deslocar-se “devido ao aumento abrupto do
nível do mar”, segundo a arqueóloga Célia Gonçalves, responsável pelas
escavações do Concheiro do Cabeço da Amoreira, que o NS visitou recentemente.
A arqueóloga explica ainda que é possível perceber que estas
sociedades já se dividiam hierarquicamente, uma vez que os restos mortais era
encontrados alguns só depositados, enquanto outros tinham adereços como fios,
pulseiras e colares.
“Um dos esqueletos encontrados estava posicionado sobre uma
almofada de conchas”, revela a arqueóloga, explicando também que estão a
estudar a interação entre os povos mesolíticos e os do neolítico, uma vez que
encontraram ossadas já pertencentes a essas sociedades no mesmo local,
indicando que poderá ter havido contacto entre as duas sociedades, já que há
uma continuidade de rituais similares.
O Concheiro do Cabeço da Amoreira foi descoberto em 1863,
durante a criação de um mapa geológico de Portugal. Várias centenas de
artefactos e de ossadas humanas foram encontradas durante a escavação que dura
desde essa data.
A arqueóloga garante que todos os achados científicos que
são da sua responsabilidade, armazenados na Universidade do Algarve, vão
regressar a Muge assim que houver um espaço para serem armazenadas.