No PSD há quem o veja como uma máquina de ganhar eleições e a verdade é que Ricardo Gonçalves tem feito jus a essa ideia desde a primeira vez em que se apresentou a votos, em 1997, então na lista à Assembleia de Freguesia de Azoia de Baixo, pacata aldeia a meia dúzia de quilómetros de Santarém. O seu partido de sempre conquistou a freguesia pela primeira vez e o jovem Ricardo, apesar de não ter sido eleito, teve acção decisiva no desfecho, pois foi quem reclamou um voto que acabou por desempatar a contenda a favor dos sociais-democratas. Mal imaginava ele que, quatro anos depois, seria eleito presidente da junta da terra que o viu nascer.
Começava assim uma carreira autárquica já longa, apesar de o protagonista, nascido a 19 de Julho de 1975, ainda não ter chegado aos 50 anos. Depois de quatro anos como presidente da Junta de Freguesia de Azoia de Baixo, em 2005 integrou a lista do PSD, liderada por Francisco Moita Flores, que concorreu à Câmara de Santarém e apeou do poder o Partido Socialista, que geria o município desde as primeiras eleições autárquicas. Não figurava entre os vereadores eleitos inicialmente, mas a saída de um deles, ainda na fase inicial do mandato, abriu-lhe as portas do executivo camarário. Em 2009 foi novamente eleito vereador e, com a saída antecipada de Moita Flores, em 2012, assumiria a liderança do município. Depois, foram três vitórias seguidas contra figuras de peso do anterior poder socialista: em 2013 contra Idália Serrão; em 2017 contra o ex-presidente Rui Barreiro; e em 2021 contra Manuel Afonso, ex-vice-presidente da autarquia.
Ricardo Gonçalves começou a interessar-se por política quando ainda andava na escola primária. Na aldeia de Azoia de Baixo, nos primórdios da década de 1980, o meio era muito politizado. A população dividia-se por estabelecimentos e colectividades consoante as suas preferências político-partidárias e havia um grande fervor político. Teve um primo e uma prima que foram vereadores na Câmara de Santarém, pela CDU e pelo PS, respectivamente. A sua tendência política foi pela social-democracia mas a mãe sempre lhe ensinou, e aos irmãos, a frequentar todos os locais, fossem eles conotados com a esquerda ou com a direita. Afirma que nunca foi sectário e define-se como “um homem unitivo”.
É militante do PSD desde 1995, quando Fernando Nogueira perdeu as eleições para o socialista António Guterres. Fez questão de se filiar quando o partido não era poder. Ao contrário de um antigo líder do PSD que se ufanava de não ler jornais, Ricardo Gonçalves é um político atento às notícias e recorre com alguma frequência a notícias de arquivo repescadas da Internet, designadamente do site de O MIRANTE, para ganhar trunfos no jogo político e refrescar a memória de alguma oposição.
Quando andava no ensino secundário e tinha explicações ao sábado em Santarém já comprava jornais ou ia lê-los à biblioteca municipal enquanto fazia horas para apanhar o autocarro de regresso a Azoia de Baixo. Lembra-se perfeitamente da queda do Governo em 1985, quando tinha 10 anos. E recorda-se que, no dia 19 de Julho de 1987, Cavaco Silva ganhou a sua primeira maioria absoluta, que festejou duplamente pois nessa data fazia também 12 anos.
Um defensor das tradições ribatejanas
Casado com uma ex-autarca do PSD, Vânia Neto, que chegou a estar com ele no mesmo executivo camarário, é pai de uma menina e de um menino com quem partilha alguns momentos mais festivos da sua actividade autárquica. Licenciado em Economia e sportinguista ferrenho, assume-se como um defensor das tradições ribatejanas. Não dispensa o traje típico nos dias de festa, participa nas cerimónias religiosas e não se atemoriza com a chuva de críticas que recebe nas suas redes sociais, que alimenta com regularidade e onde não dispensa a promoção de espectáculos taurinos na cidade.
Ricardo Gonçalves tem visível e justificado orgulho em ter posto as contas da Câmara de Santarém no verde, depois de vários anos de saneamento financeiro devido ao avolumar da dívida no consulado de Moita Flores, que chegou a ultrapassar os 100 milhões de euros. Assume que é mais forreta do que mãos largas também na sua vida privada. A boa saúde financeira do município permite-lhe deixar um conjunto de obras emblemáticas para lançar e só espera que o convidem para as inaugurações.
Estar como presidente da Câmara de Santarém no cinquentenário do 25 de Abril é motivo de redobrado e confesso orgulho para uma pessoa que vê no diálogo e na concertação os melhores meios para se chegar a boas decisões. Como a da criação na cidade do Museu de Abril e dos Valores Universais (MAVU), projecto que apesar de todo o consenso não conseguiu estar concretizado a tempo da efeméride.
Pessoa de trato fácil, tanto está à vontade nos salões do Poder como em festas e romarias populares ou no mercado quinzenal que habitualmente frequenta. Já nos tempos em que as discotecas reinavam na noite, era frequentador habitual das festas populares e os amigos gozavam com ele por causa dessa opção. É um gosto antigo e genuíno. Não vai para as festas com a farda de político mas sim com o espírito de quem gosta de passar um bom bocado em ambiente animado.
A família e os amigos mais próximos são os conselheiros quando se trata de tomar decisões mais difíceis. É também com a família e os amigos que desliga um pouco e combate o stress da vida política. O que lhe tem custado mais nas lides de autarca é o acompanhamento dos filhos. Admite que sabe muito bem estar em casa com os filhos e a esposa ou ir ao futebol com os filhos, como na véspera desta conversa tinha acontecido.